Núcleo Tramas divulga o vídeo “No tempo dos mussambês, não tinha do que ter medo”
Entre os anos de 2013 e 2015, o Núcleo Tramas da Universidade Federal do Ceará desenvolveu uma pesquisa chamada “Estudo sobre exposição e impactos dos agrotóxicos na saúde das mulheres camponesas da região do Baixo Jaguaribe, Ceará” apoiada pela Chamada MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA N. 31/2012.
A pesquisa buscou analisar como a chegada de empresas do agronegócio na região do Baixo Jaguaribe (Ceará), a partir do ano 2000, influenciou a saúde das mulheres que ali vivem. Conversamos com elas em Oficinas, entrevistas e seminários; visitamos seus locais de trabalho nas empresas; e também ouvimos profissionais do SUS. Verificamos que as diversas transformações sociais, ambientais, econômicas e culturais trazidas pela modernização da agricultura naquele território interferem nos determinantes de saúde e atingem de forma diferenciada as mulheres – sejam elas empregadas do agronegócio, agricultoras familiares, cuidadoras de suas famílias, etc – já que modificam o modo de viver e de produzir das comunidades. Exemplos disso são: o aumento da violência e do tráfico de drogas, bem como da exploração sexual, repercutindo diretamente na saúde sexual e reprodutiva, especialmente através de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez precoce e/ou indesejada.
No que diz respeito às mulheres empregadas no agronegócio, chamaram a atenção as longas jornadas de trabalho impostas nas empresas, e que ainda são seguidas de outras horas de trabalho em casa. As condições de trabalho são precárias e as expõem a uma série de riscos ocupacionais: esforços repetitivos, longos períodos em pé, ritmos de trabalho intensos etc. As tarefas destinadas às mulheres são monótonas e demandam atenção e paciência, refletindo a divisão sexual do trabalho. Nestas condições, surgem os casos de doenças ocupacionais entre as mulheres, como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e as doenças osteomusculares; além de efeitos agudos e crônicos da exposição aos agrotóxicos. Este contexto gera novas necessidades de saúde às quais as políticas públicas de saúde precisam estar mais atentas, seja no que diz respeito à atenção, seja nas ações de vigilância e promoção da saúde, a partir de um aprofundamento do vínculo e do conhecimento das equipes de saúde com/sobre a dinâmica do território.
Seguindo com o compromisso de construir novas formas de devolução e diálogo sobre os resultados de suas pesquisas, o Núcleo Tramas produziu um vídeo ao final do projeto. Assim, foi concebido o vídeo “No tempo dos Mussambês, não tinha do que ter medo: impactos do agronegócio sobre a vida das mulheres da Chapada do Apodi”. O título surgiu de uma expressão usada por Maria de Fátima, poetisa que vive na comunidade do Tomé (Chapada do Apodi), para explicar o antagonismo entre dois tempos: o dos mussambês, arbusto florífero que antes existia em abundância na região, e o tempo marcado pelo avanço das empresas agrícolas sobre seu território.
O vídeo apresenta as diversas transformações sociais, ambientais, econômicas e culturais provocadas pela modernização da agricultura a partir do olhar das mulheres. Elas narram suas trajetórias de luta, existência e resistência frente a um modelo agrícola promotor de injustiças e desigualdades ambientais que impactam violentamente suas vidas e repercutem sobre a saúde.
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Tags: Agroecologia, agrotóxicos, Chapada do Apodi, mulheres